A velha estrada - também de peregrinação - vinha por ali acima, das bandas do Douro internacional (Barca de Alva), subia pelo Caminho de Alpajares ou de Candedo até à Quinta de Santiago (onde existiu uma antiga capela dedicada ao Apóstolo, hoje destruída, cuja imagem está na paroquial de Ligares) e seguia depois para Mós e Carviçais.
Um pouco acima, deparava-se-lhe o rio Sabor, sem ponte, era necessária uma barca para o passar: Barca de Santo Antão ou Santo Antão da Barca é a mesma coisa. Já estávamos na freguesia de Santiago de Parada. Depois, Vilar Chão, Vilar Seco, Castro Vicente e sua capela de S. Gonçalo, sempre a subir até Gralhós, lugar da freguesia de Talhinhas, concelho de Macedo de Cavaleiros, onde esperava o peregrino outra capela de Santiago, Izeda, Santiago de Coelhoso e, lá longe ainda, Bragança. Depois, era só seguir o caminho leonês, já referido por Fernão Lopes, até Santiago de Compostela.
A barca de Santo Antão
O caminho era importante e antigo, mas não só na peregrinação jacobeia. É curioso, no entanto, reparar como a devoção ao Apóstolo e até a S. Gonçalo de Amarante se espalhou ao longo do seu percurso. Por ele passaram de certeza muitos castelhanos e moçárabes vindos do Sul, pela Via da Prata, na demanda do célebre túmulo galego. O trajecto até nem era muito difícil, descontado o calor em tempo de Verão.
Mas o rio Sabor, sim, esse apresentava dificuldades à sua passagem, sobretudo no Inverno; e a solução da barca surgiu naturalmente. Mas fica a pergunta: porquê de Santo Antão? Vá lá a gente saber!
Seja como for, foi num dos picos mais altos da devoção jacobeia, século XIII, que a devoção a Santo Antão entrou em Portugal. Portanto...
Mas quem foi Santo Antão?
Santo Antão
Santo Antão (Antonius em latim, razão por que ele se confunde muitas vezes com Santo António de Lisboa) nasceu por volta do ano 251, no Alto Egipto, e morreu em 356 - portanto com 105 anos.
A segunda metade do século III, tempo de perseguição e martírio, foi para os cristãos um tempo difícil, no Ocidente como no Oriente. Porém, chegada a liberdade religiosa com o edito de Milão no ano 313, tudo mudaria. Enquanto que, até aí, o martírio era considerado a perfeição máxima da vida cristã, a partir de então as multidões que superficial e interesseiramente começaram a entrar na Igreja provocaram um verdadeiro terramoto no seu interior. Em tais condições, a fuga mundi (fuga ao mundo) apareceu aos mais exigentes como uma condição necessária para alcançar a mesma perfeição: solidão, ascese e contemplação. A exemplo das grandes religiões do Oriente, da índia à China, surgiram os anacoretas, os que fugiam do mundo e subiam ao deserto.
Foi o que faz Antão, jovem ainda, por volta dos seus 20 anos. Cristão de nascimento e de origem modesta, praticamente iletrado, mesmo rude na sua maneira de ser formada num rude trabalho de sobrevivência, protestando contra o lugar que na Igreja começavam a adquirir os intelectuais recentemente convertidos, subiu para o deserto, rompendo com o mundo que o vira nascer. Ali se entregou de alma e coração a uma vida solitária, pobre e tremendamente ascética, levando a letra as palavras de Jesus Não te preocupes com o dia de amanhã (Mt 6,34) e Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu; depois, bem e seguem-me (Mt 19,21).
Em dias de sua vida, apenas por duas vezes deixou o deserto para se deslocar a Alexandria: a primeira, durante a perseguição de Diocleciano, para exortar os cristãos à coragem na profissão da fé, expondo-se assim, ele mesmo, ao martírio: e uma segunda, no auge do debate com os arianos, para apoiar os bispos na defesa da ortodoxia. Entretanto, a rudeza da vida de privação a que se entregava começou a provocar-lhe debilidades físicas e mesmo alucinações devidas sobretudo à privação de alimento e de sono.
A partir dele e seguindo o seu exemplo, os anacoretas reunidos à sua volta foram sendo multidão, e Antão o seu pai. Posteriormente, com S. Pacómio (287-347) e S. Basílio (329-379), caminhariam lentamente para um maior enquadramento comunitário. São célebres as Palavras dos antigos ou os Apoftegmas dos padres do deserto, curtos textos ou pequenas histórias recolhidos da Tradição que guardaram ensinamentos destes mestres da vida cristã.
A devoção a Santo Antão estendeu-se, primeiro, por todo o Egipto, depois a Constantinopla, para onde foi levado o seu corpo, e finalmente à região de Vienne (em França), que pretendia possuir também as suas relíquias, para ali trasladadas em 1050. Henri Estienne (1531-1598), célebre humanista francês, ria-se desta duplicação das relíquias: Por fim, Santo Antão acabou por ter dois cadáveres inteiros e, para além disso, diversos outros membros, em diferentes lugares!
Foi de Vienne que a sua devoção se espalhou a todo o Ocidente, sobretudo depois de ali nascer a ordem hospitalar dos Antonitas ou Antoninos que se especializou no tratamento de doenças contagiosas: a peste, a sífilis e, mais tarde, a chamada fogo de Santo Antão (erisipela gangrenosa), epidemia grave e recorrente ao longo de toda a história europeia, proveniente do uso contínuo do pão de centeio que desenvolvia um fungo especial que a causava.
Com o fim de obterem os meios necessários para o combate a esta e outras doenças, os Antonitas dedicavam-se à criação de porcos. Os seus animais, com uma campainha ao pescoço, podiam deambular pelos terrenos baldios de toda uma vasta região e até mesmo entrar nas aldeias à procura de alimento, privilégio que provocava a inveja e até o protesto de outras ordens religiosas e mesmo das populações locais. Por esta razão, nas imagens de Santo Antão, o santo é sempre acompanhado por um porco, que mais parece um pacífico cão de companhia. Tornou-se mesmo o advogado destes animais e seus criadores (em Portugal, na reza do terço em família, todos os dias se pedia a Santo Antão nos cuidasse dos nossos animais), tendo-se por isso mesmo a sua devoção espalhado por todo o Ocidente (onde o porco foi sempre fundamental na economia doméstica, sobretudo com as especiarias chegadas da Índia, após as Descobertas). Na iconografia antonina, o porco não é, portanto, como muitas vezes se pensa, a personificação do demónio nem tem nada a ver com as famosas tentações de Santo Antão, expressão das fraquezas da carne, que - atrás se disse - eram na realidade vertigens e perturbações sensoriais causadas certamente pelas privações a que se entregava.
A devoção a Santo Antão em Portugal
A Ordem de Santo Antão terá entrado em Portugal no tempo do Conde D. Henrique, segundo uns, ou no de D. Sancho II, na opinião mais provável. Mas foi de certeza em Benespera (Guarda) o seu primeiro petitório, assim se chamavam os seus mosteiros. Não conheço o porquê deste termo que é provável, no entanto, tenha a ver com o designativo petit Antoine (pequeno Antão > António) que os franceses davam a este santo distinguindo-o assim do grande, o de Lisboa ou Pádua.
A partir daqui, a devoção a Santo Antão espalhou-se com certa intensidade por toda a região fronteiriça, mas nomeadamente em Safurdão (Pinhel), freguesia que ainda hoje o tem por orago. Daqui passaria para norte, Trás-os-Montes mais concretamente, onde seriam criadas mais três paróquias de sua invocação: Variz (Mogadouro), Vilarinho de Agrochão (Macedo de Cavaleiros) e Lagoaça (Freixo de Espada à Cinta). É também antonina a freguesia da Desejosa (Tabuaço). E antonitas são as de Santo Antão de Évora e de Santo Antão do Tojal (Loures). De lembrar ainda as paróquias de Olmos (Macedo de Cavaleiros), primitivamente dedicada a Santo Antão mas que hoje se diz de Santo António, e a desaparecida de Santo Antão de Courelas (Trancoso), hoje incorporada na de Santa Maria de Trancoso.
É, no entanto, muito frequente encontrar imagens de Santo Antão com seu porquito ao pé, espalhadas por esse país acima e abaixo, nas igrejas paroquiais e ermidas, as mais variadas, de outras invocações.
Para além do já citada petitório de Benespera, houve mais os de Santo Antão de Lisboa (Santo Antão-o-Velho, que não se pode confundir com o de Santo Antão-o-Novo, dos jesuítas, mandado construir pelo Cardeal D. Henrique em 1580), Santo Antão de Marvila (Lisboa), Santo Antão de Aveleiro (Pinhel) e S. Domingos de Basto (Viseu)
Tenho notícia de ermidas dedicadas a Santa Antão nos lugares seguintes: Faniqueira (Batalha), Pousafoles (Sabugal), Santa Maria de Sardoura (Castelo de Paiva), Souto de Aguiar da Beira, Ucanha (Tarouca), Videmonte (Guarda), Vila Boa (Sabugal), Vila Cova de Alva (Arganil), Vilarelho (Caminha), Vilarelhos (Alfândega da Fé) e Vilar Torpim (Figueira de Castelo Rodrigo). Houve uma outra ermida de Santo Antão em Arga de Cima (Caminha) que, a partir de certa altura passou a dizer-se de Santo António, hoje o orago da freguesia entretanto criada. Registe-se também que a citada ermida de Vila Boa (Sabugal), era de grande veneração nas redondezas e, na festa que ao santo se fazia a 17 de Janeiro, vinham devotos de todos os lados oferecer-lhe cereais, dinheiro, chouriços e pés de porco; era aí invocado como advogado contra a varíola. Existem ainda hagiotopónimos em Azevo (Pinhel), Benavila (Avis), Bogalhal (Pinhel), Lanheses (Caminha), Messegães (Monção) e Sinde (Tábua).
Em Azevo (Pinhel), um monte com o nome de Santo Antão indica - parece - um antigo castro; e em Penamacor realiza-se em 30 de Novembro uma feira de Santo Antão.
Este punhado de dados diz-nos da dimensão desta devoção santoral que conheceu relativa importância entre nós.
Santo Antão da barca
Não sei porque é que a devoção de Santo Antão se estabeleceu no lugar de Parada, sobranceiro ao Sabor. Mas acima fica dito que ela se fixou em diversos outros lugares da zona. E não se ignore como em toda esta região o porco era importante na alimentação das populações.
O mais curioso de tudo é a ligação das duas devoções, Santiago e Santo Antão.
No tecto da igreja paroquial de Santiago de Parada, existe um alto-relevo em madeira policromada que fixa uma lenda que a memória popular conserva ainda. Andava o Apóstolo Santiago por esta região, um dia, a pregar o Evangelho, quando aconteceu que, ao atravessar o rio [Sabor], ele e o seu cavalo foram arrastados pela corrente. Agarrou-se então Santiago a uma corda que, em socorro, lhe lançaram de um barco, e conseguiu salvar-se.
Isto o que me contaram. E como todas as lendas tem um fundo de verdade, é preciso interpretar. Trata-se, em minha opinião, da lendarização do sucedido com um peregrino que, a cavalo, se dirigia a Compostela. Ao atravessar o rio, terá sido arrastado pela corrente. De facto, o cavalo parece ter morrido no desastre - vêem-se, no referido alto-relevo, duas ferraduras perdidas no meio das águas revoltas - mas o peregrino ter-se-á salvo: uma mão desesperada agarra a corda lançada de um barco. Perdidas igualmente nas águas, duas vieiras.
De resto, o facto de a povoação se chamar Parada (Santiago de Parada) sugere repouso e restauração em antigo caminho, que foi inegavelmente de peregrinação jacobeia, como acima ficou dito. O estar situada à beira do rio Sabor sugere que a memória colectiva apenas transformou em lenda jacobeia a história de um naufrágio que deu brado.
Rio Sabor
Se o rio Douro acabou por cavar um grande desfiladeiro, como disse Miguel Torga, o Sabor um pouco a mesma coisa. Desde lá de cima, de Espanha, que é onde ele nasce, ladeando a seguir Bragança, até praticamente ao Douro onde entra a norte do Pocinho depois de se casar, um pouco antes, com a Ribeira da Vilariça, rasgou também ele um pronunciado desfiladeiro que é o leito do ser percurso. Rio não navegável e por vezes de difícil acesso, as populações procuraram-lhe muitas vezes, mesmo assim, as margens, mas com respeito. Nem são muitas as pontes que lhe passam por cima; o que quer dizer alguma coisa.
Ao longo do seu leito, organizaram-se micro-mundos de vida animal, botânica e humana. No entanto, O Sabor não é um rio em estado completamente virgem. Ao longo dos seus mais de cem quilómetros de curso, recebe esgotos urbanos e agrícolas que lhe comprometem a qualidade da água, sobretudo no Verão. Os seus vales mais acessíveis estão ocupados por alguma agricultura. Mas ninguém tocou ainda na sua configuração natural, serpenteando entre montes que mais o escondem que o revelam
(Público, 2004.06.26).
O vale do Sabor, esboço do paraíso?
Já há algum tempo que o sítio de Santo Antão da Barca, situado praticamente a meio da percurso do rio Sabor, estava ameaçado de ficar submerso pelas águas da uma barragem que querem construir por aqui, ele e parte importante do percurso do rio mais selvagem da Europa. Ultimamente, porém, a questão chegou às primeiras páginas da Comunicação Social. Uma simples consulta à internet dá-nos de imediato as dimensões de quanto está em causa com este projecto ou decisão.
Levantam-se as vozes: a favor e contra. As duas que seguem são apenas exemplos, e nem sequer se refere a opinião técnica da EDP.
Está muita coisa em questão: interesses económicos, desenvolvimento regional, defesa de patrimónios de toda a ordem construídos ao longo da história, riqueza ecológica, paisagem natural, etc, etc.
Nós, os portugueses, somos um povo muito curioso, para melhor e para o pior. Carregados de História, perdemo-nos dela. Deitamos fora o melhor de nós próprios. Construímos uma estrada, abandonamos a antiga aos buracos e às silvas. É necessário defender o património, é verdade, mas destruímos a paisagem limpa e bela, transformada hoje em caixote de lixo - digam-me uma estrada nacional que não nos faça passar sucessivamente por lixeiras, depósitos de entulho ao lado do seu traçado, que não esteja invadida pela floresta selvagem que vai arder no incêndio do próximo Verão. Mas então a paisagem não é património construído? O Minho em que se transformou? Os rios que são? Porque estão degradadas praticamente todas as estradas antigas, alternativas aos IPs e ICs? Porque estão os nossos velhos caminhos campestres tomados pelas águas no Inverno e pelas silvas no Verão, refugo de lixos clandestinos, abandonados do cuidado das autarquias que os não podem nem sabem cuidar e que muitas vezes não possuem outra riqueza a convidar o visitante?
Um belo campo de milho, um batatal, uma vinha, um laranjal, um complexo e engenhoso sistema de rega dos campos, a hidráulica ingénua mas eficaz que árabes e cistercienses nos ensinaram, um moinho ou um conjunto deles, uma velha construção - fruto por vezes de um orgulho desmedido, é verdade - mas marca de um tempo, da ermida agora esventrada donde punhos limpos já roubaram a imagem, a velha ponte está a cair, pedra e pedra, inverno a inverno, a calçada - romana, por vezes - já tem asfalto por cima para passar o tractor, a feira só vende plástico, pão quente e disco piratas, que é feito deste país?
Eu sei. Eu sei. O progresso, o desenvolvimento económico. Qual? A qualidade de vida. Qual? E as pessoas?
Parece que, a construir-se a barragem, a ermida de Santo Antão da Barca vai ser preservada, transferida para outro lugar. Passará a ser venerado ali também S. Francisco de Assis, o patrono da ecologia?
Que bom que fosse!
Mas a ser assim, voltando ao princípio, aumentaria o rol das devoções santorais em Santo Antão da Barca, freguesia de Parada, Alfândega da Fé. No princípio, Santo Antão. Depois, Santiago. S. Gonçalo de Amarante, anda por perto, como não podia deixar de ser. Agora, S. Francisco de Assis, o da ecologia.
É que as devoções santorais também têm épocas e modas.
Mais vale, como na Ladainha de Todos os Santos: Todos os santos e santas de Deus, rogai por nós!
Apoftegmas de Santo Antão
Alguém perguntou ao abade Antão: Que devo fazer para agradar a Deus?. O ancião respondeu: Observa o que te vou recomendar: onde quer que vás, leva sempre o teu Deus diante dos olhos; em tudo o que faças ou digas respeita sempre as Santas Escrituras; onde quer que habites, não andes sempre dum lado para o outro. Guarda estes três preceitos e serás salvo.
O abade Pambo interrogou o pai Antão: Que devo eu fazer?. O ancião respondeu-lhe: Não confies na tua justiça, não te aflijas com o teu passado, mas sê senhor da tua língua e do teu ventre.
Alguns irmãos vieram procurar o abade Antão para se informarem das visões que costumavam ter e perguntar-lhe se eram verdadeiras ou vinham dos demónios. Ora, eles tinham um burro que morreu durante a viagem. Quando chegaram, o próprio Antão, adiantando-se, perguntou-lhes: Como morreu o vosso burro durante a viagem?. E eles responderam-lhe: E como é que tu sabes o que aconteceu?. Foram os demónios - disse ele - que mo fizeram saber. E eles: Por isso mesmo é que nós viemos interrogar-te, pois receamos enganar-nos: é que, por vezes, temos visões que depois se revelam verdadeiras. E o ancião convenceu-os, com o exemplo do burro, que eram eles que vinham do demónio.
Faça férias cá dentro!
O lugar da Barca de Santo Antão está hoje completamente despovoado. Umas poucas casas fechadas, e pouco mais que o lixo deixado pela última romaria. O acesso ao sítio, belíssimo mas descuidado, exige coragem e decisão. Acima, a nova estrada e nova ponte a ligar Alfândega da Fé à velha EN 221 (de e para Miranda do Douro) que é excelente. Mas se espera por uma sinal indicativo da Barca de Santo Antão, no sítio em que devia existir, não desespere que ninguém a colocou lá. Mas eu indico, porque nem ao longe nem ao perto verá pessoas ou casas. Se viajar no sentido Alfândega da Fé -
Rio Sabor, repare bem numa placa indicativa da povoação Sardão. Logo a seguir, numa distância de 200 metros, repare bem, conte dois pequenos estradões saídos da sua estrada para a direita, asfaltados apenas no seu início: o segundo leva-o à Barca de Santo Antão, abaixo uns 4 Km. Mas olhe que o estradão exige muito cuidado e atenção, destemor e pouco amor pelo carro.
o autarca
O presidente da Câmara diz da importância da «barragem do Sabor pela sua importância na regularização do Douro, na produção de electricidade por fontes renov*veis e na constituição de uma reserva estratégica de *gua. Mas o ... concelho é o que mais interesse tem nos 55 milhões de euros que serão investidos no projecto. Basta que dez por cento fique na região, em cinco anos. Com uma indústria débil e mais de metade da população activa a trabalhar no comércio e serviços, qualquer obra é vista como um factor benéfico para a economia local. (...) O autarca não vê futuro para o turismo de Natureza no Sabor, tal como o rio está. A barragem, por sua vez, criaria 17 quilómetros de zonas com potencial recreativo, com água permanente. O que a Câmara ambiciona é constituir uma área protegida regional, envolvendo a zona da albufeira e a Mata Nacional de Reboredo, hoje gerida pelo Ministério da Agricultura. Só assim podemos ter um turismo ambiental competitivo, diz o autarca.» (Público, 2004.06.26)
a bióloga
A
bióloga
«conhece uma a uma, as aves que nidificam nas escarpas da região e que justificaram a classificação de parte da bacia do Sabor como zona de protecção especial para a avifauna. Haverá pelo menos oito casais de águias-de-Bonelli e 13 a 14 de águias-reais, além de cegonhas-negras e outras espécies de aves. Não são números assombrosos, mas esta população tem uma importância particular. Algumas espécies de aves do Douro Internacional estão a deixar de se reproduzir, e o Sabor é hoje a principal fonte de juvenis que dali saem para outras regiões do país. A riqueza das aves não é um sintoma de desertificação humana. Antes beneficiam de um mosaico de áreas naturais e zonas agrícolas. Estas espécies estão também aqui por causa do homem, diz a bióloga. O que mais a preocupa é o facto de a barragem vir a destruir um rio único, com consequências imprevisíveis. Rios como este já não existem!, afirma» (Público, 2004.06.26).
Sem comentários:
Enviar um comentário